Eustáquio Rangel

Desenvolvedor, pai, metalhead, ciclista

Um pouco de história de Ruby nesse começo de ano

Publicado em Developer


Aproveitando o ano que começa agora, onde sempre fazemos uma análise do que se passou e volta e meia fazemos algumas resoluções (aproveitando também uma das minhas resoluções desse ano - shhh, é particular), quero contar e colaborar humildemente aqui nesse post um pouco de história, da qual participei em uma posição interessante.

Tenho visto por aí durante esse ano algumas tentativas de contar a história da linguagem Ruby aqui no Brasil. Durante os últimos anos, por causa especialmente do grande catalisador que foi o Rails, a linguagem tem aumentado a sua penetração (ui!) no mercado e no gosto dos programadores aqui da nossa terrinha. Vejo isso bastante alegre, pois como desenvolvedor, admirador e acreditem ou não, ainda um, digamos, evangelista da linguagem, eu fico feliz em saber que muitas pessoas estão utilizando recursos que eu considero muito bons da linguagem e das ferramentas construídas com ela. Nada mais chato do que ver gente movendo mundos quando sabemos que pode-se fazer as coisas com mais facilidade e *qualidade*, não é mesmo?

Quero declarar aqui (caso não saibam, duvidem ou o que quer que seja) que esse sentimento de "bem-comum" é autêntico: não sou pago para falar isso (apesar de ter ganho já dinheiro falando e ensinando isso), não dependo disso para ganhar a vida (apesar de que utilizo as ferramentas no meu dia-a-dia e obviamente ganho com isso) e putaquepariu, não tem nenhum fator de ego no fato de falar bem da linguagem/tecnologia, definitivamente não preciso disso.

Quando eu aprendo alguma coisa nova que seja legal e de qualidade, não escondo embaixo do colchão, tento falar para alguém sobre ela, alguns anos atrás chegando no nível de ser chamado de chato ou maluco por causa da empolgação.

Isso sempre foi assim, não começou com Ruby e também não se prende à linguagens de programação. Fui um cara incentivador do uso e da filosofia do Software Livre e consequemente do GNU/Linux muito antes de ser um cara incentivador de linguagens livres. Isso te dá muitas vezes esses estigmas de "chato" (por sempre estar falando por aí sobre isso) ou de "maluco" por aquela velha história "isso não dá dinheiro, quero ver ele continuar a utilizar isso daqui algum tempo".

Repito: tudo o que vocês me virem divulgar ou falar bem é autêntico, falo porque acho a coisa boa e quero que mais gente saiba também? Ok? Beleza. Se alguém me ver "vendido" por aí algum dia, me puxe a orelha por favor. Mas espero que isso nunca aconteça, até agora não aconteceu, e olha que com esse posicionamento consegui ser pai de família com quase 40 nas costas (e ainda Heavy Metal com os cabelos que me sobraram \m/).

Dito isso, vamos voltar ao assunto da história de Ruby por aqui.

De tudo que eu tenho escutado e lido por aí, vejo muita coisa relacionando a popularidade da linguagem com comunidades. Vejam bem, eu acho ótimo e necessário ter comunidades incentivadoras de alguma coisa, mas sem desmerecer ninguém, digo que a coletividade é às vezes complicada, pode ter alguns efeitos adversos bem chatos, quem participa/participou de algumas sabe do que eu estou falando: pessoas super-hiper-mega inteligentes mas estúpidas, egos inflados, panelinhas idiotas, gente achando que o lugar é suporte 24 horas obrigatório etc. E as comunidades não deixam de ser efeito de várias ações individuais, ainda mais em tempos tão conectados como esses. Não demora para que algo bom comece a aparecer mais e mais e as pessoas comecem a perceber o valor disso.

No início das comunidades e da divulgação de Ruby por aqui, haviam várias pessoas que não são citadas em NENHUMA das restrospectivas que vi por aí. Ok, memória falha, esquecemos de várias pessoas e coisas ao longo dos anos, mas é complicado quando parece que a coisa é deliberadamente filtrada sabe-se lá por que motivo.

Por isso, para contribuir com essa memória coletiva, vou mencionar aqui algumas das pessoas que estavam por lá quando começamos (é, eu estava por lá também) a falar sobre Ruby aqui embaixo da linha do Equador. Alguns aí podem dizer "mas e aí, o que vocês fizeram depois disso?" e isso pode ser tópico para outro post, mas o fato é que estávamos todos por lá e fomos os "chatos e malucos" que peitaram um bando de gente em fórums e palestras, com conteúdo autêntico (frisando bem essa parte) divulgando a tecnologia que acreditávamos que valia a pena ser defendida. E se é para se ater no contexto da história de Ruby por aqui, isso é mais do que válido, em minha humilde opinião. Vamos lá.

Guaracy Monteiro

Guaracy Monteiro. Vocês já ouviram falar desse cara? Pois é, lá por 2004 quem estava fora do mundo "padrão" de desenvolvimento ouviu. O Guaracy era um cara bem ativo discutindo sobre desenvolvimento de maneira séria (o que era bem díficil numa época que Java estava perdendo um pouco da força e algumas pessoas de tecnologias alternativas estavam de olho em posições de "líderes de novas tecnologias" para serem os lindos da mamãe) e mantinha o "Cadafalso", um ótimo blog que hoje pode ser acessado via a Wayback Machine:
http://web.archive.org/web/*/cadafalso.deusexmachina.com.br

O Guaracy foi um dos primeiros caras que eu ouvi escrever sobre Smalltalk, Haskell, Ruby, TDD, Lisp e mais uma pancada de coisas interessantes. Hoje o blog está desativado e ele se dedica mais à fotografia, mas se tem um sujeito que me ajudou como profissional e como pessoa a me interessar por Ruby por causa do que escrevia e do que argumentava de maneira consistente, é esse sujeito. O único defeito dele é que ele adora Emacs (agora ele aparece aqui pra comentar ;-).

Ronaldo Ferraz

Ronaldo Ferraz. O Ronaldo é um grande amigo que anda meio sumido das escovações de bits de uns anos atrás, mas que mantém ainda o seu blog com ótimos artigos. O cara é uma máquina de devorar livros e um dos sujeitos que blogam de maneira mais elegante que já vi. Ele consegue escrever os seus textos com muita qualidade e seriedade (diferente dos quem vos escreve - eu sou um cara meio relaxado com essas coisas, mas é o meu jeitão mesmo) e dá para encontrar vários artigos de Ruby com essa qualidade no blog dele. Nesses posts, dá para notar algumas coisinhas interessantes:

Aí eu me pergunto: Por que diabos que esse cara nunca é citado na história do Rails e Ruby aqui no Brasil, depois de tudo o que ele contribuiu?

João Pedrosa

Alguém lembra do João? Ou sabe por onde ele anda? O João era um dos caras que mais falavam de Ruby por aqui. Em 2004 ele contribuia de monte com o projeto Ruby-GNOME2, e isso porque ele já sacava da coisa. Procurem no Google para conhecerem mais sobre o cara e se alguém descobrir por onde ele anda, me avisem!

Alexandre Riveira

Sabem o que o Alexandre fez? Acreditou em Ruby e Rails e me convidou para ministrar um curso de Ruby na Object Training em Maio de 2007. Acredito que foi o primeiro curso de Ruby de duração mais longa do Brasil! E, visão comercial, vocês dizem? Pode ser, mas na época mesmo em uma cidade do porte de São Paulo não era um curso popular e o Alexandre acreditou na divulgação e no uso da tecnologia, já que ele começou a migrar os sistemas da própria empresa de outras linguagens para Ruby.

Particulamente eu achei os cursos ótimos, conheci um monte de gente legal, aprendi um monte (é, nós aprendemos ensinando!) e fiquei animado de mostrar e discutir vários recursos legais da linguagem para turmas onde dava para ver que estavam animados com tudo o que estavam aprendendo.

Ronie Uliana, Adriano Dadario e Rodrigo Caffo

Esses são algumas vezes citados nesses resumos que eu vejo por aí (confessem seus safados: quem vocês estão subornando? ;-) e também são ótimos amigos e pessoas muito legais. Os caras fundaram o RubyOnBR que foi o primeiro site concentrador da comunidade Ruby e Rails aqui no país e da Rails-BR, a primeira lista de discussão sobre Rails por aqui.

Eu!

Ok, eu costumo ser tranquilo em relação à essas coisas, mas putamerda, sabem quem eu também nunca vi sendo mencionado nesses resumos? Eu! Nem-uminha-vez.

Listando algumas coisas que eu fiz sobre Ruby:

E porra, ninguém fala NADA sobre isso? Como disse, eu não costumo esquentar muito a cabeça com essas coisas, mas caraca, chutam o balde. Não é por nada não, mas é bastante coisa para deixar de fora de TODA santa citação sobre a história de Ruby aqui no país.

Além desses caras que não são citados nessa história do Ruby tem o Jonas Galvez, o Carlos Eduardo (da e-Genial), o Shairon Toledo e mais alguns outros que por motivo de espaço e da minha própria falta de memória não vou mencionar aqui mas que já deixo as minhas desculpas por não mencionar.

Podem até perguntar o que andamos fazendo por Ruby e Rails depois de ter acendido o estopim da coisa, e aí são outras histórias que deixo que cada um conte se quiser e se achar adequado. Alguns continuam com a tecnologia, outros sumiram, alguns outros (eu no meio) deram uma freada no ritmo das coisas por fatores que não tem nada a ver com a parte tecnológica da coisa, etc.

Mas o fato é que existiu tudo isso citado aqui no começo da divulgação e "evangelização" de Ruby aqui no país, que começou nessa época entre 2003-2006 e lógico, continua até hoje.

Para finalizar, fora declarar que isso antes de mais nada foi obviamente um desabafo pessoal explicíto e totalmente por falta de saco com essa situação, espero ter contribuído aqui com mais material para lembrar e registrar essa história e deixo uma singela indagação se é falta de memória ou algum tipo de interesse que deixam toda essa turma de fora da "história do Ruby no Brasil".




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