Eustáquio Rangel

Desenvolvedor, pai, metalhead, ciclista

Rede Globo explora negativamente a morte de Dimebag Darrel

Publicado em Music


Incrível como o tempo passa e algumas coisas não mudam, inclusive o preconceito que o povo tem com o estilo que se convenciona chamar genericamente de "Heavy Metal", levando em conta todos os seus sub-estilos ali dentro.

Sou admirador de longa data desse estilo (desde que tinha franja ;-) e vou te falar, parece que a inquisição que eu presenciava dos anos 80 para cá apenas deu um folga em certo ponto.

Naquela época, ter cabelo comprido, ainda mais aqui no interior, era ser parecido com um ET ou algo do tipo. Esquisito, drogado, demente, adjetivos desse tipo pipocavam nas faces das pessoas de maneira não-verbal que dava medo. Com o tempo, a coisa diluiu um pouco, ficando mais "aceitável" o estilo que nós levávamos. Mas parece que foi só uma "convivência pacífica", pois as mentes em muito pouco evoluiram.

Nesse link aqui, o pessoal da Whiplash demonstra seu descontentamento com o a reportagem "ao fogo com as bruxas" que a Rede Globo apresentou no Jornal da Globo, que inclusive disponibilizou uma matéria sobre o acontecido.

Fizeram questão de lembrar que "dimebag" traduzido é "trouxinha de maconha" e falar que "muitas bandas de heavy metal fazem a apologia da brutalidade". Mas deixa eu argumentar sobre duas coisas aqui:

Uma, que essa associação com a droga enche o saco. Eu sei muito bem que tem muita gente que curte rock pesado que usa drogas. Do mesmo jeito que tem gente que curte sertanejo, techno, blues, jazz, etc etc que curte também. Só que só pegam no pé dos mais "estranhos". E generalizam.

Por exemplo, eu. Nunca usei, não uso, nem nunca vou usar !@#$!@#$@! de droga alguma (acredite quem quiser!) e modéstia à parte viro o capeta no palco. Troco os canais. Fico literalmente "em alfa". Sem drogas. Por que curto o som. A adrenalina de quem realmente curte a pancadaria sonora, a energia da galera pulando e agitando.

Isso deve ser de longe mil vezes mais intensa que um dopado tocandonão sabendo nem o que está fazendo lá direito. Só que se alguém me ver lá no palco, vai falar "olha lá o cara, muito looooooooco", do mesmo jeito que já fizeram MUITAS vezes.

Uma vez toquei com a camiseta da campanha "Drogas, nem morto" e quando desci do palco me vieram perguntar se era zueira. Isso por que do meu lado do palco só tinha Gatorade (não bebo álcool também).

Então, encheu o saco esse status generalizado de drogado que a galera Heavy Metal leva. Ponto.

A outra coisa é esse negócio de apologia à violência: o Pantera e o Damageplan eram brutais? Sem dúvida. Mas (me desculpem agora, molecada) só adolescentes revoltados da vida para levarem a sério alguma letra mais "nervosa".
Não é possível jornalistas que se dizem competentes achar que tudo o que se escuta ali é para ser levado ao pé da letra.

Consultem um psicológo ou se lembrem da "fervura" que temos na adolescência. Aquela energia brotando e escorrendo, implorando para ser direcionada para algum lugar, mesmo que seja para uma letra berrada falando para quebrar tudo. Tudo bem que alguém aí pode concordar que tem algum outro jeito de direcionar isso, mas que é um jeito legal de dar uma "aliviada", é. Desestressa. Tira aquelas amarguras que a gente carrega sem saber direito o que fazer, pois não conhecemos o mundo direito ainda. Será que já se esqueceram dessa fase? E, lógico, entre sair berrando por aí "quebra tudo" com um monte de espinhas na cara e hormônios espumando e ter 25 anos e sair dando tiro nos outros, há uma boa diferença.

Mesmo nos modelos mais conservadores adolescente é adolescente, e um dia cresce e acaba colocando alguma coisa no lugar. Mas me parece que essa turma crítica cresceu e não aprendeu nada. Continuam patinando nos mesmos conceitos, não entendendo os filhos e netos (nunca vamos entender por completo não é, mas temos que pelo menos chegar perto) e o pior, não entendendo a si mesmos! Não tiraram nenhuma lição de vida dos anos que se passaram?

O ponto aqui é que mesmo sem ser violenta qualquer frase por mais inocente que seja pode ser interpretada do jeito mais bizarro e distorcido por alguma mente doentia (tem uns que ficam rodando os LPs - alguém lembra disso - ao contrário).

Do mesmo jeito que alguma frase mais violenta é interpretada literalmente por alguém que não tem o bom senso de analisar todos esses fatores que comentei aqui.

E Rock Pesado tem que transgredir, que ter uma mensagem mais firme, com ou sem algum peso ali nas letras, senão desvirtua. A essência do Rock morre. Tchau, herança do Jerry Lee Lewis. Tchau, herança do Elvis. Tchau, herança dos Stones.

Tá certo que tem muita banda hoje em dia falando de muita coisa bonita, linda, maravilhosa, castelos, fadas, gnomos etc etc etc mas a veia original do Rock pesado é a mais "carregada" mesmo, não tem jeito.

Tomara que daqui uns anos alguns parem de levar tão a sério essa "pose de mal" da turminha e consigam tirar essa nuvem de preconceito de cima dos olhos e fazerem seu trabalho direito, de uma maneira jornalística e imparcial.

Será um ganho para o sujeito como pessoa e como profissional, e consequentemente, para nós, os telespectadores/ouvintes/leitores.

P.S.: Antes que alguém me escreva dizendo que tem uns comentários bem "toscos" no site da Whiplash, lembrem-se que a maioria do público deles são a garotada, como disse acima. Ah, e sem lembrem do que vocês escreviam (e acreditavam) nessa idade também. ;-)

Atualizado em 14/12/2004: Saiu uma charge sobre o comentário estúpido do Arnaldo Jabor.


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