Eustáquio Rangel

Desenvolvedor, pai, metalhead, ciclista

Quem tem medo do lobo mau?

Publicado em GNU/Linux


Estava pensando em algumas coisas que escrevi no artigo citado aqui no meu último post.
Uma coisa que tenho visto e lido por aí sobre ter um ambiente que possa rodar aplicações Microsoft e desse modo supostamente tentar fazer o pessoal migrar para o Linux, é que devemos ficarespertos com o pessoal de Redmond pois o Longhorn vai ser muito inovador blá blá blá.
Antes de mais nada, convém lembrar que muitas das tecnologias vindouras do Longhorn consideradas "inovadoras" (filesystem, etc) não vão estar presentes nas primeiras versões do Longhorn. Palavra de gente que trabalha na Microsoft.

Pois bem, minha pergunta é: qual será a porcentagem de empresas que, hoje em dia, não se sentem sufocadas com o ambiente estrangulador da Microsoft, e que vão aderir ao Longhorn?
Vejo muita gente por aí dando pulos para sair desse ambiente. Muitos não aceitaram a, na minha opinião, bomba que foi o "software assurance" sugerido alguns anos atrás. Nós mesmos aqui ficamos capengando com alguns NT até que os trocamos definitivamente para Linux.

Vejam que interessante: alguns dias atrás, ligaram da Microsoft para o gerente de TI aqui, fazendo uma "pesquisa" sobre o nosso ambiente. Respostas rápidas: TODOS os servidores rodando software livre, tanto o web server como o banco de dados (que ficou muito mais rápido no Linux que em qualquer win* em que foi instalado), estações em vários pontos de venda rodando software livre, ferramentas e linguagens de desenvolvimento em sua maioria software livre. Temos ainda um ERP que foi comprado que roda somente em VB, e fica meio estranho se rodado num Wine da vida.

Parece que assustamos a mocinha com as respostas, pois foi uma das pesquisas mais rápidas que já vi. :-)
Agora vocês me perguntam: aqui na empresa, estamos interessados em alguma suposta vantagem que o Longhorn vai ter? Nem a pau. Antes que me chamem de ignorante tecnológico já adianto que acredito que qualquer coisa que venha que preste para uma empresa, temos ou teremos opções melhores em software livre.

Fica um comentário oportuno aqui: não me venham falar dessas vantagens como desktops facílimos para usuários finais, por que acredito que já esteja muito fácil e mais que isso seria o caso de pensarmos em elevar o nível dos usuários finais, que seria uma coisa bem válida, e não tentarmos projetar coisas bonitinhas que até macacos podem operar, por que desse modo estaríamos relegando a capacidade humana de aprendizado e desenvolvimento pessoal e profissional em favor de máquinas mais espertas. É engraçado como o nível de conhecimento de usuários finais hoje em dia é frustante se comparado com a era pré-Windows, quando o mais leigo usuário final que comprava o seu micrinho com dinheiro suado sabia fuçar nele e nos programas de modo bem melhor que hoje em dia, e entendia de informática bem mais que hoje.

Voltando ao assunto, eu pelo menos, e acredito que a empresa também (que é uma respeitável empresa de médio porte, diga-se de passagem), não tenho a menor preocupação com a Microsoft hoje em dia. Conseguimos alcançar um patamar sustentado somente por software livre. Alguns insistem em espernear dizendo que é impossível isso na empresa deles, que é difícil, blá blá blá, mas o primeiro passo é justamente parar de pensar isso. Lógico que a coisa não vai mudar do dia para a noite, mas se você ficar um bom planejamento e não tentar por o carro na frente dos bois, a coisa anda, e quando você se der conta já estará em um nível suportado somente por software livre.

E por que raios tenho que ficar preocupado com a Microsoft nos próximos anos, em relação à tecnologia, se já estamos hoje em um patamar bem estável? Algumas pessoas dizem que eu fiz FUD com o artigo sobre o Mono, mas aqui volto a crítica contra as pessoas que insistem em fazer FUD sobre tecnologias vindouras da Microsoft, em que algumas parecem vapourware, e algumas nem funcionam direito ainda.
Isso sim é fazer muito agito por coisas que nem existem ainda, e que talvez nem vão existir, ou se existirem, não nessa intensidade esmagadora que algumas pessoas acreditam hoje.
É deixar muitos gerentes de TI de cabelo em pé com o Linux e a possibilidade dele não atender às novas e supostas demandas. E no meio desse apavoro todo, milagrosamente já entregando de bandeja uma solução para esse suposto problema novo, que nem existe ainda. Enquanto o problema velho está a cada dia definhando esendo superado ...

A única coisa que fico preocupado com a Microsoft é uma coisa que sempre digo: eles não vão conseguir mais, mesmo com toda a máquina de marketing deles, provar que são superiores ao software livre (dêem uma olhada no post sobre as brilhantes idéias do Steve Ballmer) e vão começar a jogar sujo. Vide toda a nebulosidade sobre o caso SCO, os estudos patrocinados de TCO, aquele brilhante "estudo" sobre Linus não ser o pai do Linux, todos os FUDs por aí, etc etc. E como insistentemente apontei no artigo sobre o Mono, as patentes. Até agora eles não as usaram, mas somente na última semana ficamos sabendo de mais duas (duplo-clique e listas TODO). Eu não ponho a mão no fogo.

Acho que iniciativas como o Freedows, que permite você rodar suas aplicações legadas dos Windows da vida em um sistema mais seguro, são uma opção válida. Inclusive pedi uma proposta para avaliar se o dito ERP que temos aqui roda lá. Se rodar, aí sim que nunca mais vamos ouvir falar no Bill. :-)

Agora, em relação à iniciativas que incentivam o desenvolvimento de novas aplicações, que possam até rodar em ambiente mais seguro, mas ainda "com um pé na jaca", eu acho são meio estranhas.
Acabam, de um jeito ou de outro, preservando por um pouco mais a sobrevida do lado de lá. Mesmo trazendo um suposto ganho de migração de pessoal, ainda não estariam respirando aliviados como se respira quando você vê que está livre de qualquer limitação burocrática, nos melhores moldes do software livre.
Eu acharia mais válido essa migração de uma forma mais lenta, consistente, bem planejada, com tantas outras ferramentas livres disponíveis por aí. Mas isso é outro (longo) papo ... :-)


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