Eustáquio Rangel

Desenvolvedor, pai, metalhead, ciclista

O que nos espera na segunda vida?

Publicado em Web


Second Life

Não, esse não é um texto místico não. Estou me referindo ao Second Life, aquele mundo virtual que é um hype. Eu pessoalmente ainda não testei (tem uma versão para GNU/Linux mas parece que ainda tem algumas limitações), mas estava conversando com o diretor aqui esses dias e hoje recebi a edição 178 da Information Week falando sobre isso (aproveitem para dar uma olhada no curioso visualizador da revista que tem no site).

Aí estava pensando aqui com os meus botões. Muitas corporações estão de olho nisso como se fosse a nova galinha dos ovos de ouro, embalados por muita gente de marketing que vendem essa idéia. Mas será que as corporações e o público em geral estão adequados e alinhados para essas idéias?

Muitas empresas hoje não tem capacidade de ter atendimento decente para o seu cliente, seja com recursos próprios ou terceirizados. Que o digam as empresas telefônicas, ainda mais se for para cancelar algum serviço. Quem nunca xingou algum atendente que jogue o primeiro comentário! Agora imaginem esse tipo de atendimento no Second Life.

Eu acredito que em um primeiro momento, se fosse alocada uma pessoa exclusivamente para isso, seria uma coisa, digamos, chique, mas e quando aumentar a demanda? Ela seria suprida por mais pessoas qualificadas ou seriam terceirizados os avatares o que acarretaria uma situação semelhante à que temos hoje no mundo real? Qual seria a vantagem disso, se pensarmos que vamos pegar fila no banco do mundo virtual sendo que no mundo real já temos nossos terminais de auto-atendimento que facilitam muito a nossa vida? Ah, certo, podemos ter terminais de auto-atendimento no mundo virtual também, é só mudar o conceito de atendimento, mas qual seria a vantagem disso sobre um site bem feito (tem alguns sites de bancos que são medonhos, complicados e IE-only né)?

Lógico que são possibilidades a serem exploradas que, para nós, usuários "normais", não tem problema se vão ou não dar certo. Se ficarmos de saco cheio, não utilizamos mais o serviço, é gratuito e não vamos perder nada. Mas e para uma empresa que resolve investir ali? Especialmente se for a sua ou se for uma que você tenha uma certa responsabilidade. Hoje temos aparentemente somente os grandes players de mercado, que podem dedicar alguma verba para testar uma situação que pode ser, de acordo com a matéria da revista, "o exercício da estupidez corporativa". Estupidez caracterizada pelo alto investimento em uma coisa que não pode passar de hype pelo menos no caráter e na intensidade que a idéia é vendida às corporações.

Estava pensando em canais de troca de mensagens, tanto o ainda não-tão-extinto IRC como os MSNs, Jabbers e outros protocolos da vida. Não houve investimento e expectativas corporativas enormes iguais a que existem para o Second Life. Ok, sabemos que é uma experiência diferente, as pessoas podem ter outras percepções, mas será que se esse negócio se popularizar não vai ter as mesmas características que um grande bate-papo onde os anúncios das grandes empresas possam passar despercebidos como os popups que bloqueamos hoje no navegador e qualquer vendedor virtual seria tão chato como aqueles tipos que te param no meio da rua oferecendo empréstimos ou oferecendo papéizinhos? Não descambaria para levar para o mundo virtual tudo o que temos no mundo real? Qual seria a vantagem, será que não seria melhor pensarmos em melhorias nas coisas aqui em carne-e-osso antes de replicá-las lá? Iríamos arrumar dor-de-cabeça em duas frentes diferentes ...

Outra idéia que foi exposta no texto seria o usuário criar o próprio produto no mundo virtual que seria produzido no mundo real. Sabemos que tem gente que tem conceitos sólidos sobre isso, mas imaginem o tanto de coisas malucas que as empresas receberiam e que seria perda de tempo - e tempo é dinheiro - analisar. Lógico que pode aparecer o próximo grande produto no mercado sem ser da Apple, mas uma que a probabilidade disso acontecer não é tão alta e outra que se realmente fosse criado alguma coisa do tipo, será que quem criou ia receber os créditos?

Esse negócio de "vamos escutar os nossos consumidores não deixa de me recordar um episódio dos Simpsons chamado "Oh Brother, Where Art Thou?" (que saiu na segunda temporada), onde o Homer descobre que tem um irmão milionário dono de uma fábrica de carros, e o irmão tem a "brilhante" idéia de, com uma verba gorda, deixar o Homer projetar o novo modelo de carro da empresa, afinal, ele é "gente do povo", vamos escutar os seus anseios né ... aí saiu esse negócio aí:

Carro do Homer

Não preciso nem dizer o que aconteceu com a fábrica de carros. ;-) Vejam bem, não estou dizendo que não devemos ser ousados, mas que não devemos ser precipitados em investir em hypes mais acentuados pelo marketing do que por um mínimo de experiência prática e de não tão curto prazo. O que vocês acham?




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