Informática nas escolas
Publicado em Politics
Segundo essa notícia, um projeto na Câmara, de autoria do deputado Fábio Souto (PFL-BA) quer tornar obrigatórias aulas de informática no ensino médio no Brasil. É uma ótima idéia, mas aí eu me pergunto: o que informática?
Antes que alguém já pare de ler esse post já pensando que vou "puxar a sardinha" para o lado do Software Livre, espere um pouco - e para a turma defensora ferrenha do Software Livre, se lembrem que eu sou extremamente partidário disso antes de me xingarem: eu acharia incoerente ensinar "Linux" do mesmo modo que ensinar "Windows", ou ensinar "Open Office" do mesmo modo que ensinar "Word e Excel", ao invés de ensinar "sistema operacional" e "aplicativos de escritório".
Acredito que a molecada na escola, com os seus cérebros e mentes na ebulição costumeira dessa idade, não pode ser reduzida a conceitos de produtos, mesmo que sejam produtos livres, e devem conhecer a tecnologia, o conceito em si. Seria a mesma coisa que ensinar história omitindo fatos que não são de nosso agrado em particular. Alguns anos atrás, quem trabalhava com computadores não associava automaticamente a idéia de que "Word" era aquele lugar onde se escreviam os textos. Havia mais alguns outros, o WordPerfect, o WordStar, que eram bons produtos mas infelizmente foram sucumbindo ao poder da Microsoft.
Essa turma sabia o que eram "editores de texto", e sabiam que poderiam usar o de sua preferência, inclusive eles "conversavam" entre si, abrindo formatos um do outro, até que o .DOC engoliu tudo. E nessa turma não estou falando os "geeks" de plantão não, eram advogados, engenheiros, empresários, toda essa turma que hoje em dia a grande maioria aparentemente ficaram meio "emburrecidos" com as "facilidades" modernas ...
Lógico que eu prefiro muito mais que seja utilizado Software Livre no ensino, tanto pela beleza filosófica, técnica, economica e de cunho social, mas já que vamos falar de informática, não sejamos alienados, e que sejam citados Windows, Mac OSX, os BSD's, que seja dado um quadro geral da coisa, que sejam citados as vantagens entre eles, que seja ensinado a filosofia bonita do Software Livre mas que cada um faça a sua escolha conscientes das suas opções.
Esse negócio de enfiar uma opção ou outra guela abaixo é muito frágil. Uma opinião bem formada e mais sólida se dá através de atitudes mais construtivas, conscientizadoras e práticas, e não pode ser bem formada sem ao menos se conhecer um pouco das opções disponíveis.
Mas estou falando isso presumindo que seja utilizado Software Livre em um processo que, convenhamos, vai ser bem controverso. Se for escolhido ser utilizado o Microsoft Windows, dificilmente vai ser pensado algo do tipo, e o ensino pode assumir o caráter de "catequização de produtos" de uma maneira bem mais forte e agressiva do que usando Software Livre. Com certeza vamos ver frases do tipo "padrão de mercado" e brados revolucionários radicais vindo da turma do Software Livre, mas não se esqueçam: a proposta é ensinar informática.
Comentários
Comentários fechados.
Artigos anteriores
- Pull requests em modo raiz - sex, 22 de dezembro de 2023, 09:57:09 -0300
- Qual a idade do seu repositório? - ter, 27 de dezembro de 2022, 12:50:35 -0300
- Utilizando ctags em projetos Rails mais recentes - qui, 24 de junho de 2021, 08:23:43 -0300
- Fazendo o seu projeto brotar - seg, 15 de julho de 2019, 08:57:05 -0300
- Learn Functional Programming with Elixir - sex, 02 de março de 2018, 18:47:13 -0300
- Ambiente mínimo - Driver Driven Development - qua, 23 de agosto de 2017, 15:15:03 -0300
- Ambiente mínimo - repositórios de código - dom, 16 de abril de 2017, 13:02:14 -0300
- Ambiente mínimo - terminal e navegador - dom, 02 de abril de 2017, 21:43:29 -0300
- Utilizando muitas gems no seu projeto? - sáb, 29 de outubro de 2016, 11:57:55 -0200
- Desenvolvedores e inteligência artificial - seg, 11 de julho de 2016, 09:09:38 -0300
Tatiana, eles perdem a chance de ensinar conceitos a favor de ensinar produtos. Se ensinassem os conceitos, os alunos sairam bem mais preparados para o mercado. Se ensinam o "word" e o aluno vai trabalhar numa repartição pública que usa OpenOffice, ele "bloqueia". Se ensinam o que é um editor de texto, ele já tem mais facilidade.
Eu acho que a preocupação deles é formar alunos preparados para o mercado de trabalhoporque muitos não sabe nem ligar o computadorassim não importa o que vão ensinar mas eles saindo sabendo o básico já é o suficiente.
Eu acho que a preocupação deles é formar alunos preparados para o mercado de trabalhoporque muitos não sabe nem ligar o computadorassim não importa o que vão ensinar mas eles saindo sabendo o básico já é o suficiente.
Khaoz,
Tem um filme ótimo que eu adoro que chama "Shine", que conta a história do pianista prodígio David Helfgott, onde um professor de música diz para ele "aprenda as notas e depois as esqueça". Eu peguei isso como lema para muita coisa, ou seja, você aprende alguma coisa mesmo que seja decorando mas depois executa dando a sua interpretação delas, aplica o seu "feeling". Uma obra como a Rach 3, além de ser muito difícil de tocar, exige muita interpretação e sentimento de quem a toca.
Imagine que o (windows|linux|bsd) seja a obra. Em minha opinião, poderia ser usado o aplicativo (obra) para que o aluno entenda o conceito (interpretação da obra), ou seja, o professor fala "isso é X, mas você tem que entender o que X representa e não necessariamente o que ele faz explícitamente". O aluno absorveria o conceito mesmo estando de cara com o produto.
Teriam que ser enxugados os xiitismos de todos os lados, mas garanto que a gente, partidários do SL, teríamos muito mais coisas legais a falar sobre o que aquilo representa tanto em termos técnicos para o aluno que gostasse apenas de alguma coisa mais "crua" tanto para em termos, vá lá, filosóficos para quem estiver disposto a escutar uma história legal. :-)
Veja que eu estou jogando o nível do ensino para um patamar um pouco complicado se você for pensar que os professores de hoje em dia são "bitolados" em uma certa tecnologia ... mas meu devaneio talvez serviu para responder a sua pergunta e para que eu possa exercitar mais um pouco essa idéia do que sempre pensei que seria um jeito legal de ensinar informática. ;-)
Nunca deixei de concordar quanto ao ensino de conceitos (sistema operacional, processadores de texto, planilhas eletrônicas) e também quanto a apresentação "das coisas ao meu redor" como windows, office, BSD, linux etc... mas sou um cara bastante tendencioso como pode ser visto aqui http://giulianisanches.blogspot.com/2007/04/m-atacando-novamente.html
Mas até hoje eu tenho uma dúvida:
Você vai estar ensinando sistema operacional usando o windows.
O leigo sai de dentro da sala de aula querendo praticar e vai procurar a mesma ferramenta que esta usando durante o aprendizado e com o passar do tempo o conceito se perde ta feita a bobagem: mais um usuário de windows pirata.
Como ensinar conceitos sem vincular o aplicativo ?
Acabei de ver a verba do pacote educacional do governo para informatização:
Informatização: Investimento de R$ 650 milhões para informatizar 130 mil escolas. A meta é dotar todas as escolas do país de um laboratório de informática.
Pelo que parece é somente para a estrutura, ou seja, a compra de computadores, o treinamento *parece* que não está aí no meio.
Vi aqui:
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-04-22_2007-04-28.html#2007_04-24_17_10_11-10045644-0
Com esse negócio de pacote da Microsoft por US$ 3 vindo ao mesmo tempo, quero ver o que vai virar.
Opa TaQ
Concordo contigo com a filosofia do ensino de informática... deveria ser neste sentido de "focar nas competências para usar a tecnologia" e não os conteúdos de informática.
Por questão de boa política pública a escolha de software livre seria a mais adequada (não por que estou querendo ser evangelista de software livre) mas é por que é a opção tecnológica com o melhor custo-efetividade...
Mas teríamos os problemas de falta de gente capcaitada pra trabalhar nesta linha, como foi dito acima...
Parece,(estou chutando pois não foi ler a proposta do deputado) que é mais um artigo para vender software para o governo... estou inferindo isto desta frase, supostamente dita pelo deputado:
""[...] não se restringindo apenas a uma ferramenta de aprendizagem, como entendem muitos educadores.""
[]'s
Luiz,
Concordo que a gente tem que ensinar um, mas tem que se policiar para deixar claro que os conceitos são os mesmos entre os outros produtos ... ás vezes é complicado até com os "comentários maldosos" feitos por nós na comparação do nosso produto de escolha com o outro concorrente. É aquele lance da auto-escola né, o cara pode te ensinar em um Fusca, mas todo mundo sabe que as coisas vão ser razoavelmente as mesmas nos outros veículos, mesmo que você fique xingando o "Fucão" o dia inteiro. :-)
Por isso que a questão da compatibilidade, como por exemplo o ODF, é importante hoje em dia. Dá uma maior flexibilidade e liberdade de escolha, que como sabemos, não é interessante para algumas partes ...
Thiago,
Também estou ansioso e com receio disso. A gente sabe que as esferas "ali de cima" são complicadas. Dá uma olhada nesse post do Bardo:
http://bardo.castelodotempo.com/blog/o-preco-do-aprisionamento
Leonardo,
Complicado né. :-( E pensar que todos esses anos de "facilidades" levaram à isso. É um preço que se paga pelas tais. Como disse, não era para todo mundo ser hacker hoje em dia, mas chegar ao nível que chegou também foi sacanagem.
O "X" dessa questão é o ponto onde tecnologia deixa de ser um produto. Não importa que vc queira ensinar SO ou "editor de texto", em algum momento vc vai ter que escolher algum para ensinar.
Para piorar, tem o fato do que a grande maioria dos produtos que uma pessoa média precisa saber sobre informática são incompatíveis (ou quase) entre si. Mesmo no Linux, que a gente curte tanto, tem diferenças significativas entre distros.
E qualquer um que vc escolha vai arranjar problemas. Vão ter pessoas reclamando das suas escolhas. MS Office? OpenOffice? KOffice? Abiword? Linux? MacOS X? Vista?
Taq, concordo com você contra essa idéia de adestrar as pessoas. As pessoas não sabem NADA, elas só sábem que se colocar a seta encima do e azul e clicar vai abrir um troço onde você pode colocar www.ofuxico.com.br e ler fofocas.
Mas pior que isso, hoje informatizar = colocar computador! No dia que isso mudar aí podemos discutir o adestramento.
No dia que 2% dos Brasileiros souberem que o que pra informatizar é preciso software aí vamos poder discutir o adestramento e depois vamos poder ensinar também que no Brasil mesmo quem tem acesso a internet não usa internet.
Orkut, msn, jogos e slides com besteirase sexo acho que isso é 90% do tráfego da internet no Brasil, os outros 10 somos nós nerds(no sentido pejorativo), é triste, mas é possível mudar sim.
Inclusão digital pra isso é só despesa...é preciso mostrar a parte útil da internet.
De pleno acordo, concientizando ao invés de obrigando a utilizar determinado SO ou software as crianças e jovens podem formar sua opinião e com certeza serão revelados verdadeiros geeks bem jovens
Da notícia:
"O conhecimento de informática, segundo o deputado, chega a ser uma condição para se conseguir emprego, não se restringindo apenas a uma ferramenta de aprendizagem, como entendem muitos educadores."
Então...nada de aulas de informática, de fato. Nada de usar o computador como mídia de conhecimento, comunicação ou suporte as demais aulas (ilustrar e explorar ciências, matemática, etc).
Condição de emprego? Mais uma vez o mercado vai dar a direção das aulas. Quanto a isto, eu espero pelo pior...
"[...] não se restringindo apenas a uma ferramenta de aprendizagem, como entendem muitos educadores."
Ao meu ver, o Sr. Fábio Souto não quer restringir o computador a uma ferramenta de aprendizagem mas, ao fazer isto, ironicamente restringe a educação à uma pseudo formação profissional. A melhor ferramenta que temos para apoio a educação, e ele quer utilizá-la para um fim que, se não for de menor importância (dado nossa crise educacional), será empregada de forma duvidosa. O que me lembra:
Art.35 (ensino médio) III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
Eu, particularmente, aguardo os efeitos do projeto OLPC. Com grande entusiasmo e receio, ao mesmo tempo.
Ataliba,
Justamente! Os professores teriam que ser bem treinados pois vão ser os multiplicadores da coisa. Eu sou suspeito de falar, mas garanto que todo mundo ia gostar dessas noções de INFORMÁTICA. Coincidentemente, acabei de dar um help para uma usuária aqui nesse exato instante, ela não sabia o que era extensão de arquivo e ficou maravilhada com o conceito, acredita? A gente não precisa ensinar o povo a programar em Assembler, mas também não precisa deixar nessa "rasura" né. :-)
O grande problema é : quem vai ensinar ? A maioria dos profissionais, inclusive, os que vivem de informática, tem esta visão. Não conhecem conceitos, mas sim tecnologias.
Pegue as faculdades. Foram executores, não criadores. Por isto, aqueles que tem um pouco mais de facilidade, ou melhor, são mais geeks que os demais se sobressaem.
Acho que, para que o ensino realmente seja feito do modo como você ( e eu, que concordo com você ) acha, o modo de ensinar tecnologia devia ser mudado em todos os cantos do Brasil.
Aí, depois de um tempo, poderíamos ver pessoas que sabem operar um Office, e não o OpenOffice ou o MSOffice :-)