GNU/Chatos
Publicado em GNU/Linux
O assunto começou com aquele lance da Apple de proibir os seus funcionários de desenvolverem software livre mesmo em seu tempo livre.
Eu achei isso uma baita sacanagem, mas não um assunto que não seria interessante discutir. Joguei a questão na lista GPL-BR e saiu muita coisa interessante lá, inclusive é uma boa lista para se assinar se você gosta desse tipo de coisa.
Aí o espertão aqui resolveu ir perguntar para a turma do #gnu na Freenode qual era a opinião deles sobre isso, pois, tivemos opiniões fundamentadas na legislação local aqui, queria saber da turma lá fora como pode ser o esquema lá. Comentei sobre a notícia, passei o link, e lá vem um GNU/chato:
GNU/Chato: Isso acontece quando você inventa um termo igual o open-source, e as pessoas o seguem. Eles se preocupam em ganhar um dinheirinho enquanto houver pessoas estúpidas que acreditam no open-source.
Eu: Não tenho muita certeza do que o open source tem a ver com isso. Eu acredito que a Apple não esteja permitindo nenhum tipo de desenvolvimento somente com os fontes abertos ou com a liberdade que as coisas GNU-like trazem. E tirando a questão da liberdade em si, acredito que tenha muita gente esperta que gosta do termo open-source. Eu acho que "software livre" é melhor por que você acaba recebendo muito mais coisas com o pacote, mas não posso dizer que o Eric Raymond é estúpido. :-)
GNU/Chato: Alguém que não suporte liberdade de conhecimento é estúpido na minha opinião.
Eu: Até o Stallman tem uma posição menos radical sobre o Raymond. Mas tudo bem, é a sua opinião.
GNU/Chato: Deixa eu te perguntar, você não considera a liberdade de conhecimento necessária?
Eu: Sim, com certeza.
GNU/Chato: Open-source não te dá isso. Eu não quis chamar o Eric Raymond de estúpido, mas eu chamo o termo open-source de estúpido.
Eu: Ok, mas não podemos conversar com o pessoal do open-source para provar que software livre é melhor chamando eles de estúpidos. :-) Tem melhores jeitos de fazer isso do que usando esses termos.
GNU/Chato: O que? Eu não posso chamar open-source de estúpido?
Eu: Lógico que você pode. O que estou tentando dizer é que tem melhores jeitos de se conversar sobre software livre (e sobre qualquer coisa) do que chamando as pessoas de estúpidas. :-)
GNU/Chato: Cara, qual é a sua?
Eu: O meu ponto de vista é que eu realmente acredito que devemos ser legais um com os outros, conversar de uma maneira decente.
GNU/Chato: "Open source é estúpido". Você ficou ofendido com isso?
Eu: Se você quer chamá-los de estúpidos, então chame. E não, não fiquei ofendido.
GNU/Chato: Estou vendo que você não respeita minha opinião. Se eu quero dizer que open-source é estúpido, eu digo.(Socoooooorrooo)
Eu: Eu prefiro um posicionamento mais para Gandhi do que para Hitler, ao discutir essas coisas.
GNU/Chato: Estou vendo. Você não respeita a opinião dos outros. (Argh! Mula! Jumento! Imbecil!)
Eu: Por que não???
GNU/Chato: Por que você quer que eu fale a respeito de open-source com outros termos. Você quer que eu mude meus argumentos por que você se sentiu ofendido. Me fale por que não posso dizer que open-source é estúpido? "Estúpido" é uma palavra válida com significado, por que você não aceita isso? Eu a uso muito bem nesse contexto por que é exatamente como eu vejo o open-source. Alguma objeção? Eu não vou parar de me expressar por que pessoas podem ficar ofendidas.
(Nesse ponto parece que eu estava falando com uma parede ou com alguma mula empacada)
Eu: Não, nenhuma objeção. Se expresse do jeito que você quiser. Mas repetindo: é uma atitude mais positiva você tentar provar algo para as pessoas sem fazer ofensas.
GNU/Chato: O que você quer que eu faça? Peça desculpas?
Eu: Cara, relaxa, ninguém está aqui jogando as bruxas na fogueira, se acalme, só vim dar a notícia sobre a Apple.
GNU/Chato: Você é o único se sentindo ofendido.
Eu: Dá para a gente ficar em paz aqui?
GNU/Chato: Estou sempre em paz. Você é o único irritado.
Eu: Ih cara, chega vai.
GNU/Chato: Você realmente tem que entender isso melhor.
Deixei ele falando sozinho. Acho que esse pessoal tem problema na cabeça. Deviam procurar um médico.
O cara fez questão de a) perverter b) relegar ou c) não fazer questão do que eu estava falando, que era:
Você expõe melhor seus pontos de vista tendo uma conversa saudável e educada, do que chamando os outros de idiotas.
Mas pela concepção dele, eu agredi a liberdade de expressão, o direito de opinar, a santa e irrevogável vantagem que o software livre tem sobre o open-source, talvez o próprio conceito do software livre! E pior, eu que era o irritado e não respeitava a opinião dos outros! :-)
Engraçado também como o sujeito não teve colhões para descer o sarrafo no Eric Raymond, que é um sinônimo automático de "open-source". Preferiu rodear, rodear, e não por o dele na reta.
Mas não estou nem aí. Uns tempos atrás eu já estaria roxo perdendo algumas horas tentando argumentar com um tipo desses, mas é como dar murro em ponta de faca, então o melhor é deixar esses tipos falando sozinho, pois é igual shit, quanto mais você mexe ali mais fede. O duro é que mesmo que a mensagem que você esteja querendo passar seja algo positivo e legal (pô, ser legal com os outros é ser legal), eles deturpam sua mensagem e armam um barraco.
Fico pensando que tristeza que deve ser esse tipo de sujeito encarando isso como um tipo de mantra que ele tem que ficar repetindo e divulgando ditatoriamente para quem aparecer na frente apenas para que ele possa se sentir certo e seguro em seu lugar no mundo. Talvez tirando essa papagaiada toda (vejam bem: não me refiro à software livre nem à open-source no termo "papagaiada", e sim à insistência de armar barraco desses revoltadinhos) eles se sintam pessoas vazias e solitárias e percebam como são malas. Deve ser duro isso.
Sejam legais. Eu tento. Quando não dá, agora deixo os malas falando sozinhos. :-)
P.S.: Só para constar: eu chamo o Linux de GNU/Linux. Acho que merecem. Mas não vou morrer por causa disso. :-)
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