Eustáquio Rangel

Desenvolvedor, pai, metalhead, ciclista

E assim caminha o Software Livre ...

Publicado em GNU/Linux


Estou lendo algumas coisas aqui e não posso deixar de expressar um certo desgosto de como as coisas andam as vezes. Bom, coisas não, as pessoas, que conduzem as coisas. Incrível como tem gente que gosta de complicar, de difamar, de surtar, de achar que são mais que os outros, que representam uma classe sem que essa mesma classe (ou uma boa parcela dela) os dessem o direito de dizer isso.

Antes de contar alguma coisa "remota", ou seja, que vejo acontecendo por aí pelos meios digitais, vou mencionar uma que aconteceu aqui pertinho. Temos aqui um grupo de usuários, que estava bem ativo pelo menos nas reuniões onde o pessoal se reunia em algum restaurante e ficava comendo, bebendo e jogando conversa "geek" fora. O assunto, como era de se esperar, Software Livre. Altos planos, muita expectativa, todo mundo com idéias boas. Foi assim até na hora de se mexer de verdade.

Estamos organizando um eventoaqui sobre Software Livre, junto com a associação comercial da cidade, e pedi para o pessoal das empresas dar uma prestigiada no local, pois iria ajudar a demonstrar a força que isso tem aqui na região. Não precisariam fazer mais nada além de mostrar a cara e levar alguns banners e cartões para o local. A adesão foi mínima. :-(

Não que eu esperasse muitos, mas com certeza não esperava tão poucos. Alguns, que falavam, diziam e aconteciam (e eu achava que se nem se importassem tanto com Software Livre como diziam, podiam pelo menos ir em respeito á amizade), não se dignaram nem a responder os emails, talvez por não considerarem o evento de muito interesse para eles, mas mesmo assim, como não iam ter custo algum, pensei que poderiam pelo menos perder 2 horas e darem uma forcinha.

Mas como disse, nem se dignaram a responder os emails.

No fim das contas, o evento vai sair, eu acredito que vai ter uma força boa pelomenos para alavancar mais o conhecimento do pessoal mais leigo sobre Software Livre aqui na região, e eu pude ver claramente com quem eu posso contar agora para esse tipo de coisa. Ainda bem que era uma coisa light, por que se fosse um projeto mais de peso, eu ia dar com os burros n'água ...

Aí vem a parte remota, estou lendo aqui sobre o PC Conectado. Acho que esse treco vai sair com Windows, de tanto que o pessoal fica brigando e criticando! Quando elegem a distro que vai ser usada, todo mundo cai de pau em cima. Tudo bem, se tem problemas, temos que apontar, mas algumas críticas tem sido exageradamente nocivas e só tendem a jogar areia na coisa. Imagina se o projeto vai conseguir agradar todo mundo! Uns querem a distro X, outros Y, outros querem a X mas o gerenciador de janelas tem que ser o W, etc etc etc.

Alguns ao invés de tentar entrar em contato com o pessoal da distro, preferem redigir textos enormes apontando tudo que tem de errado e sentar para ver o estrago. Seria mais fácil nesse caso comprar melancia e penicos para todo mundo, se a questão é aparecer. Por que uma coisa produtiva isso está longe de ser.

Não estou dizendo que não podemos criticar Software Livre. Podemos sim, devemos até, mas temos que ter uma certa coerência na coisa. Já demora tanto para termos um projeto desse tipo, agora vamos ficar brigando por causa de gostos pessoais (sim, no fundo é isso) e egos e morrer na praia? Não compensaria deixar o computador ser vendido, afinal, o povão quer é o hardware, e todo o papo sobre o Software Livre entregue, apesar de válido, para a maioria vai se extinguir no tempo deles abrirem a caixa, verem que não tem o Windows lá e correrem para o camelô ou o vizinho "técnico" ao lado? E daí, para que toda essa briga? "Ah, mas se tivesse um sistema decente no computador o comprador não faria isso ..." certeza? Quais seriam as estatísticas? Posso estar certo, posso estar errado, mas o fato que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer, e fazendo toda essa briga vai acabar fazendo que mesmo as possibilidades do usuário receber um GNU/Linux e um computador lá sejam nulas.

O governo poderia até tomar uma atitude do jeito que o Alex Hubner detesta e enfiar uma distro guela abaixo e pronto. Por que senão vai ficar esse "chove-não-molha" eterno, e a coisa não vai sair do papel. Inclusive acho que esse tipo de atitude é válida quando se tem muitos "caciques" apitando a coisa, patinando e não saindo do lugar. Eu pessoalmente não sou eleitor desse governo que está aí, e uma das coisas que sempre critiquei foi essa mania de discutir tudo com todos e nunca fazer nada, que serve mais como demagogia e evita ações concretas. Deixando claro que não sou a favor de ditadura, Deus me livre, mas tem horas que temos que fazer mais do que fazer bonito. E me desculpem o teor político desse último parágrafo.

Falando em caciques, fiquei de cara quando escutei o termo "kurumerda". Quanto desrespeito ao trabalho dos outros, para que isso, gente ... O Kurumin tem se mostrado um grande aliado para quebrar tabus e conceitos negativos pré-definidos sobre o GNU/Linux. O trabalho do Morimoto é muito louvável, e ele conseguiu catapultar com certeza o Software Livre em muitos lugares que sequer ele conseguiria chegar perto.

Esses dias fui fazer uma palestra em uma cidade próxima, e como não tenho notebook, levei um CD para rodar no computador que estivesse por lá. Acabei usando um notebook de um professor da faculdade lá, onde só de tentar copiar os arquivos do CD para o HD, travou o sistema. Aí eu havia levado um CD com o Kurumin, e resolvi bootar o notebook com ele. O professor ficou maravilhado pois o Kurumin reconheceu todos os dispositivos do sistema, e mesmo rodando no CD, estava mais rápido que o sistema que ele tinha instalado no HD. Acabei deixando o CD com ele, que com certeza vai ser um multiplicador das vantagens do Software Livre.

Aí eu deixo claro um ponto: eu aviso que eles podem usar o CD para conhecer o GNU/Linux e ver que ele não é um bicho de sete cabeças como se imagina por aí, mas depois que o usuário "tomar coragem" convém instalar alguma outra distro no HD para usar o sistema em toda a sua potência. Eu reconheço que o Kurumin, como "distro oficial", peca em alguns sentidos, mas os críticos tem que reconhecer que é um trabalho muito bem feito e que ajuda barbaridade na difusão do Software Livre!

Inclusive ele já ajudou tanto ou até mais na popularização do Software Livre que alguns que acreditam ter um currículo enorme na área. "O que você fez, para falar isso?". Eu não fiz 1/100 do que o Kurumin fez, nesse campo, e acredito que muita gente aí que critíca também não. "Ah, mas eu sou mantenedor do programa X,Y e Z, dou suporte não sei onde, traduzi tal coisa". Se não fosse o Kurumin, muita gente não ia nem saber o que é isso. Então vamos "baixar a bola" e aplaudir sim o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Morimoto.

Mesmo que as críticas tenham sido feitas com "bom humor", é mais um passo na criação de desavenças e de situações que queimam o filme, onde mostram que além da comunidade ser muito "técnica" - alguns ás vezes querendo que ela fosse uma elite como a que se tinha na década de 80 onde quem mexia com computador era um deus - no fundo, no fundo são só humanos e alguns com aqueles comportamentos que, apesar de "ajudarem" e "contribuírem" com a "causa", só visam o próprio umbigo e ego.

No meio desses tipos tem até alguns surtados que acham que representam alguma coisa ou algum grupo de pessoas. Espera aí, quem elegeu esses caras? Eu uso Software Livre, eu escrevo Software Livre, eu divulgo Software Livre, mas eu me recuso a dizer que alguns tipos assim me representem em alguma coisa, peloramordeDeus! São casos perdidos do que disse acima, acham que são representantes do "movimento", generalizam isso para que outras pessoas acreditem nisso e acabam queimando o filme de todo mundo.

Nunca tivemos eleições para esse tipo de coisa, e se tivéssemos, com certeza eu não votaria em uns tipos assim, pois eles são outra mostra dos casos que mencionei acima, só pensam no próprio ego, e tem uma fixação doentia que eles são os "salvadores" (ou que são representantes diretos dos pensamentos de alguma figura poderosa no meio, se escondendo e usando seus argumentos, ás vezes distorcidos, em favor próprio) e acreditando que tudo tem que ser do jeito deles, do contrário todo mundo está errado e vai sentir a sua ira, chegando ao cúmulo de convidarem as pessoas à se retirarem de um movimento onde que eles acham que tem autoridade para isso. Uns tipos desses mais atrapalham do que ajudam, apesar do que possam acreditar ...

E assim caminha o Software Livre e a humanidade. Em algumas palestras que eu faço, costumo deixar claro para algumas pessoas que veêm o Software Livre como um estado utópico onde todo mundo é legal e perfeito, que vão encontrar muita gente complicada por aí. "RTFM". "Lammer". "Eu tenho currículo". "Eu sou o representante, o salvador, siga os meus conselhos ou sinta a minha ira". "Eu sei". "Eu sou gnu, você é boi (essa foi ótima)". E a máxima "volte para o Windows!". Tem um monte de gente boa que volta.

Pelo menos avisando, a turma já chega esperta. Por que nada é mais decepcionante do que alguns casos que levaram a porta na cara literalmente depois de grande entusiasmo. Inocência, utopia, por parte deles? Talvez. Mas por que não podemos ser mais legais uns com os outros, e nos colocarmos no mesmo degrau? Todo mundo só ia ganhar com isso. Façam a sua parte, mas não cobrem reconhecimento forçado por causa disso, e nem tentem denegrir o trabalho dos outros para favorecer o seu. Que coisa feia.

Atualizado em 28/05/2004 17:02: Antes que vocês me perguntem "ei, mas espera aí, você está metendo o pau no .Net no artigo anterior" deixa eu só dizer que estou apontando alguns fatos que vão me permitir contradizer algumas mentiras "cabeludas" que o departamento de marketing de certa empresa insiste em inventar. Aí não tem jeito né, tem que se dar nomes (e valores) aos bois. ;-)


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